Músicos chapecoenses se revoltam por ficarem fora da EFAPI 2017

Músicos chapecoenses se revoltam por ficarem fora da EFAPI 2017

15 de setembro de 2017 Off Por Chapecó



  • Músicos de Chapecó revoltados criticaram o edital que definiu a participação de músicos locais na Exposição-Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Chapecó 2017 (EFAPI). Entre alguns dos músicos consagrados de nossa cidade estão Paulo Franzmann, Anderson Tombini, Rodrigo Teles, Régis Palma, Valdo Padilha, Rafa Barros, e muitos outros.

    Eles disseram, entre outras coisas, que “não é nada contra os 10 escolhidos”, mas que a Secretaria “deve fomentar a cultura. As críticas são direcionadas à diminuição das apresentações, em relação à outras edições. Acham que deveria haver palcos alternativos para que mais artistas tivessem espaço.

    No começo dessa semana, Paulo Franzmann se manifestou em rede social. Leia:

    Carta de repúdio ao atentado à cultura musical chapecoense praticado pela administração municipal de Chapecó, Secretaria de Cultura e Organização da Efapi 2017

    Bom dia pessoal não tenho o hábito de longos depoimentos em redes sociais mas agora a tolerância chegou ao fim. Chapecó minha terra natal, a cidade que eu amo, a cidade que fervorosamente me enche de orgulho e que dá sentido a todos meus esforços pela nossa cultura musical, nossa terra, bandeira e história, hoje através do Poder Público Municipal desferiu um golpe fulminante contra o meio artístico musical chapecoense.

    Comemorando o centenário de nossa cidade teríamos uma grande festa na Efapi 2017 com a celebração dos talentos musicais e o reconhecimento devido àqueles que são responsáveis pela cena musical de toda uma região há décadas! Teríamos …

    Devido a imposição de um edital impraticável para “selecionar” quem teria o direito de apresentar sua arte na efapi 2017, algo em torno de 90 por cento das bandas e músicos do rock chapecoenses foram impedidos de participar do processo de escolha e as bandas que conseguiram cumprir os requisitos do edital foram submetidas há uma avaliação totalmente equivocada nesse processo. Sinceramente eu fiquei mais surpreso com a ausência das bandas fundamentais de Chapecó no processo seletivo do que com a avaliação patética da comissão julgadora. E não ousem insinuar que “as bandas é que desistiram e não se inscreveram”. Tenho a nítida sensação de que os artistas locais são um incômodo, um problema para quem deveria fomentar e proporcionar o melhor possível ao patrimônio cultural chapecoense. O edital não permitia inscrição de músicos não residentes em Chapecó, sendo assim todos que decidiram dar um passo adiante na sua carreira artística, indo buscar conhecimento em grandes centros foram automaticamente excluídos. (inclusive para suprir a inexistência de ensino superior adequado na área em Chapecó) Ou seja, quem estava Brasil afora levando o nome de Chapecó e nossa bandeira foi premiado com a exclusão da cena cultural da sua terra natal. Vale citar também que mesmo assim alguns músicos que não residem atualmente em Chapecó omitiram essa situação e participaram do processo seletivo mesmo assim, deixando a entender que os documentos solicitados para comprovação de residência não foram inspecionados com a devida atenção. A conduta omissa e negligente de nossos representantes do poder público municipal resultou na opção em delegar o processo seletivo à um corpo de “jurados” super conceituados e com todos os tipos de méritos acadêmicos imagináveis no meio musical erudito, sinfônico, e fundamentalmente incompatível a música chapecoense. Pessoas que dominam a técnica e teoria musical, que procuram a perfeição aos olhos de Doutores em Música. Chapecó nunca teve uma universidade com graduação na área da música. Infelizmente isso não faz parte da nossa realidade. Não serve de parametro para o rock de chapecó. Somente quem é daqui conhece nossa música e história. Será que não temos pessoas competentes em nossa cidade para essa tarefa? Delegar essa missão à “estranhos”? Gente que mal sabe onde fica Chapecó, que não tem a mínima idéia da nossa realidade, da nossa tradição e cultura? Sério? Dentro da Secretaria de Cultura temos exímios músicos, sem falar em Orquestra, Banda da Polícia Militar, Escolas de Música, entre dezenas de outras opções.

    Resultado: Completando um século, Chapecó não verá a Banda Paranóia que há mais de 30 anos toca suas musicas, não teremos a Repolho, responsável por Chapecó ser conhecida musicalmente em todo o país, não terá a Encruzilhada com seus músicos que são referencia inclusive com o Dinho que hoje representa Chapecó tocando com o Dazaranha, banda de maior sucesso no nosso estado, não teremos Red Tomatoes, banda genuinamente chapecoense que apostou suas fichas indo trabalhar em Curitiba e lá é consolidada como referencia musical, não teremos Variantes, a banda chapecoense que provavelmente fez mais sucesso em todo o sul do pais, não teremos Vitrola a Vapor, banda que chegou a riscar o disco de tanto tocar nas radios da cidade, não teremos Epopéia, banda de chapecó que toca em todos os grandes festivais alternativos no sul do pais, não teremos músicos que são responsáveis por tudo que temos hoje na cena musical, como o Passarinho, o George Rock, e tantos outros, não teremos Jack Louis que é um soldado incansável da nossa cidade, não teremos Carlota Joaquina que é uma baita banda com trabalho autoral excepcional,não teremos o Santo Graau que toca no país todo, não teremos bandas novas como os Comandantes, Os Bigodes, nem a galera do Metal, como Sagrav que tem um disco inspirado em histórias da nossa terra, nem os projetos do Angelo Parisoto que sempre é impecável em tudo que faz,não teremos a velha guarda com The Jets,Arquivo 70, não teremos os caras que mais trabalham na noite da cidade, o Rogério Mello e Alvaro…. A Gisele, o Alisson, Zuba, Minozzo, Michele,Ricardo Bedin, Pilo, Benck, Marlon….(me perdoem quem eu não citei aqui) . e não me venham com o papo de que os músicos não tomaram iniciativa! A ADM pública deve servir o cidadão e não o inverso…. e não teremos também Dazantigas, a única banda chapecoense que conquistou o direito de tocar no Planeta Atlantida, maior festival do sul do pais pelo voto popular, pela escolha do público…. mas não, a opinião do cidadão chapecoense não importa, tanto que segundo a avaliação dos nobres especialistas a Dazantigas é uma das piores bandas entre todas as inscritas, e só não é pior do que a Mister Magoo que há quase 20 anos leva a bandeira e o nome de Chapecó para todo o Brasil, que está presente em todos os eventos de nossa cidade, que irá em novembro até Buenos Aires receber um premio como reconhecimento por tantos anos representando a cidade e povo de chapeco, por sermos embaixadores da nossa terra. Das bandas GENUINAMENTE chapecoenses teremos apenas a Mustang que faz um trabalho fantástico e ainda assim ira se apresentar desfalcada de seu maestro que está impedido de tocar em decorrência do famigerado edital da Secretaria de Cultura de Chapecó. Teremos o Marcio Pazin que ja foi tratado em outras edições da feira com total desrespeito.

    Que fique bem claro que não estou questionando as bandas/artistas selecionados, muito pelo contrário, a riqueza de nossos artistas é outro fator que evidencia a mediocridade da decisão de reduzir a presença do fruto da casa a apenas 10 apresentações justamente na edição centenária da Efapi. Desnecessário também abordar o aspecto financeiro pois isso não faz a menor diferença (só esse ano devo ter feito uma meia dúzia de shows sem remuneração alguma em eventos do município e faria com prazer mas 10 shows gratuitos sem o menor problema), nem para os músicos bem como para o poder público ou organização do evento (somados todos os “cachês” das atrações locais o valor não chega a 50% de uma única “mega atração” da feira.

    Encerro essa carta de repúdio confessando a vocês que isso tudo sem sombra de dúvida foi a maior decepção que a música me trouxe nesses vinte e poucos anos que luto pela causa. Não somente pelo meu trabalho ser tratado com ingratidão mas principalmente pelo fato de que isso está matando a nossa música. O pessoal está desistindo da causa. Justamente a causa para qual dediquei minha vida de músico, do orgulho de ser um musico chapecoense ….

    Sou filho do cara que iniciou a historia do rock de Chapeco na década de 60 e dedicou a vida pela música de nossa cidade.

    Sinto muito meu pai por não poder realizar o seu pequeno sonho de tocarmos juntos o Rock do Verdão no centenário de nossa amada Chapecó. Por favor me perdoe. Eu juro que fiz o meu melhor…

    Acredito no meu trabalho e tenho a consciência tranquila…. não fui eu que na comemoração do centenário de Chapecó joguei toda a linda historia musical chapecoense no lixo.

    Ainda há tempo de remediar este atentado ao patrimônio cultural de nossa cidade.

    Quem não valoriza o passado jamais terá futuro.

    Paulo Franzmann, músico chapecoense, filho de músico chapecoense, fundador da Mister Magoo, banda chapecoense, atual baixista dos Garotos da Rua, representando Chapecó em uma das mais importantes bandas de rock do Brasil finalizou.