Pesquisa mostra que zika provoca danos além da microcefalia

Pesquisa mostra que zika provoca danos além da microcefalia

26 de fevereiro de 2016 Off Por Chapecó



  • A descoberta ocorreu após pesquisas feitas em um feto, morto na 32ª semana de gestação, depois que a mãe de 20 anos, sem identidade revelada, e moradora do interior da Bahia, foi atendida no Hospital Regional Roberto Santos, em Salvador. O feto foi retirado em 20 de janeiro, cinco semanas depois de ter sido diagnosticado com microcefalia e hidranencefalia (condição rara em que o crânio é preenchido por um líquido). Além das complicações no sistema nervoso, consideradas graves, outros problemas afetaram o bebê.

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    Ele apresentou quadro de artrogripose (doença congênita que deforma os membros e as articulações) e hidropisia (presença de líquido em cavidades do corpo, provocando inchaços no bebê).

    Um dos responsáveis pelo estudo publicado pela revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases e diretor do Hospital Regional Roberto Santos, Antônio Raimundo de Almeida classificou a descoberta como “a ponta do iceberg”.

    — Descrevemos no dia 9 de fevereiro, as primeiras lesões causadas pelo vírus da zika no sistema ocular (nos olhos) e as alterações auditivas. Além disso, alguns bebês com o vírus não têm microcefalia. Então, chamamos isso de síndrome da zika congênita e dizemos que é “apenas a ponta do iceberg” — relatou o médico.

    Outro ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi a ausência de sintomas do zika na mãe. O artigo científico explica que ela pode ter sido exposta ao vírus, mas não desenvolveu nenhum sintoma, apesar de o feto ter adquirido “complicações graves”, segundo os especialistas.

    — Como isso não havia sido, ainda, descrito na literatura [médica], nós achamos que seria interessante comunicar a comunidade científica internacional sobre esse achado e estudamos detalhadamente, detectamos o vírus, fizemos o sequenciamento com os colegas e detectamos que esse vírus é uma variante asiática que circula aqui no Nordeste” — completou o diretor do hospital.

    Especialistas sugerem o nome “síndrome da zika congênita”

    A partir da necrópsia feita no bebê, os cientistas encontraram a presença do zika no líquido amniótico, no líquor (líquido que reveste o cérebro) e na medula espinhal. Já em outras partes, como coração, pulmão, fígado, placenta e no sangue, não encontraram o vírus.

    Um dos médicos que acompanhou de perto o caso da mãe de 20 anos, Manoel Sarno, é especialista em medicina fetal e classificou as lesões no bebê morto como muito graves e a quantidade de líquido na cabeça além do comum para a hidranencefalia.

    — É importante a gente alertar que o vírus não causa apenas microcefalia, mas causa danos também em outras partes. É o que chamamos de síndrome da zika congênita. Sugerimos essa terminologia para tirar o foco da discussão da microcefalia: não é apenas a microcefalia, mas uma potencial lesão para outros órgãos — alerta o profissional.

    O especialista ainda recomendou cuidados sobre o assunto, para não gerar pânico.

    — É o primeiro caso relatado, no mundo, com essas características. É importante frisarmos que é um quadro extremamente grave, atípico, mas isso não pode ser extrapolado para toda a população.

    Os especialistas explicaram, ainda, que a descoberta pode aumentar o número de casos notificados dos efeitos do zika nos bebês, já que era registrada apenas a microcefalia. Segundo eles, bebês com zika já apresentaram complicações mais leves, que não foram associadas ao vírus.