Escavação em vala comum busca restos mortais de 796 bebês

Escavação em vala comum busca restos mortais de 796 bebês

22 de junho de 2025 Off Por Editor



  • Centenas de mulheres solteiras eram isoladas da sociedade e davam à luz em segredo

    Onze anos após a descoberta de que 796 crianças morreram em um antigo lar católico na Irlanda, uma escavação foi autorizada para recuperar os restos mortais, possivelmente enterrados em uma antiga vala comum. O local, em Tuam, virou símbolo do passado de repressão a mães solteiras no país. O terreno onde funcionava o Bon Secours Mother and Baby Home, no condado de Galway, abriga hoje uma área de recreação. Mas, entre 1925 e 1961, foi cenário de um dos capítulos mais sombrios da história irlandesa. Centenas de mulheres solteiras eram isoladas da sociedade e davam à luz em segredo, em instituições religiosas que não deixavam rastros oficiais dessas crianças. A descoberta do número de mortos foi feita em 2014 pela historiadora local Catherine Corless, que mergulhou em registros oficiais e revelou um dado chocante: 796 crianças teriam morrido no local, e apenas duas teriam sido enterradas formalmente em cemitérios. Investigações posteriores já haviam detectado restos humanos em um antigo tanque de esgoto desativado. Testes indicaram que os bebês tinham entre 35 semanas de gestação e três anos. Agora, uma exumação oficial vai começar e deve durar cerca de dois anos. “Será uma escavação única e incrivelmente complexa”, afirmou Daniel MacSweeney, diretor da intervenção autorizada pelo governo. O objetivo, segundo Catherine Corless, é claro: “Quero dar dignidade e, se possível, identidade aos 796 bebês enterrados em Tuam”. A batalha de Corless, no entanto, não foi fácil. Ela foi hostilizada por moradores locais. “Me disseram que eu estava envergonhando Tuam”, contou. Parentes dela também sofreram pressão. Um e-mail recente a chamou de “uma desgraça” e dizia “Espero que as freiras te processem.” Por outro lado, há quem veja justiça no que está sendo feito. “Já era hora”, disse um morador à reportagem do The Irish Times. “Os pobres bebês”, completou. O caso também sensibilizou sobreviventes e familiares. Anna Corrigan, que acredita que seus dois irmãos, John e William Dolan, estejam entre as vítimas, disse que o início das escavações é “muito emocionante”. “Sinto que há uma luz no fim do túnel. Pelo menos agora estão sendo reconhecidos”. Diante da repercussão internacional, as Irmãs de Bon Secours pediram desculpas públicas em 2021 e prometeram contribuir com 12,97 milhões de euros (cerca de R$ 75,2 milhões) para o programa de reparações do governo irlandês. O caso expõe feridas profundas de um tempo em que mães solteiras eram marginalizadas e as crianças, invisibilizadas. Como resume Catherine Corless: “Essas crianças não importavam em vida, e não importavam na morte”.

    Com informações portal UOL