
As dificuldades de ser professor de direita no Brasil
4 de outubro de 2025‘O docente enfrenta um estigma que muitas vezes o coloca em posição de isolamento, julgamento e até de hostilidade’
O espaço escolar, sobretudo no ensino superior, é tradicionalmente visto como um ambiente plural, onde diferentes perspectivas deveriam coexistir em diálogo. No entanto, a experiência de ser professor identificado com posições políticas de direita no Brasil tem se mostrado um desafio significativo. Mais do que divergências acadêmicas ou teóricas, o docente enfrenta um estigma que muitas vezes o coloca em posição de isolamento, julgamento e até de hostilidade velada. Historicamente, os cursos de ciências humanas e sociais, assim como parte expressiva das licenciaturas, foram marcados pela predominância de um discurso “progressista”, ligado a pautas de esquerda. Isso não é, em si, um problema. Afinal, o pensamento crítico é essencial para a formação cidadã. O problema surge quando esse predomínio se converte em hegemonia, criando um ambiente pouco receptivo à divergência ideológica. Professores que se identificam como conservadores ou liberais, por exemplo, muitas vezes têm suas ideias desqualificadas antes mesmo de serem analisadas. “Essa hostilidade simbólica gera um ambiente de autocensura, onde o professor evita expor plenamente seus posicionamentos” (Roberto Mota). Um dos maiores obstáculos para o professor de direita é a rotulação automática: ser chamado de “reacionário”, “alienado”, “opressor” ou até “inimigo da educação”. A crítica política, que deveria ser dirigida a ideias e argumentos, se converte em ataques pessoais. Essa hostilidade simbólica gera um ambiente de autocensura, onde o professor evita expor plenamente seus posicionamentos para não sofrer represálias ou danos à sua carreira. Na prática de sala de aula, isso pode significar um constante exercício de equilíbrio. O professor de direita precisa encontrar maneiras de se expressar sem ser acusado de doutrinação, ao mesmo tempo em que observa colegas de esquerda que, muitas vezes, expõem suas visões políticas com liberdade. Essa assimetria afeta não apenas o bem-estar do docente, mas também a experiência dos alunos, que perdem a chance de ter contato com uma verdadeira diversidade de perspectivas.
Professor de direita e o risco à liberdade acadêmica
A liberdade acadêmica deveria proteger todo professor, independentemente de sua orientação ideológica. No entanto, no Brasil, ser professor de direita pode significar enfrentar processos administrativos, denúncias injustificadas e campanhas de difamação. Essa situação revela um paradoxo: em nome da democracia e da pluralidade, acaba-se cerceando justamente aqueles que pensam de forma diferente da maioria. Ser professor de direita no Brasil é enfrentar não apenas o desafio pedagógico, comum a todos os educadores, mas também o peso de uma estigmatização política que reduz o espaço para o diálogo e para o pensamento crítico. Para que a educação cumpra verdadeiramente seu papel formador, é necessário garantir que todas as vozes — de esquerda, de centro ou de direita — possam se manifestar sem medo. A pluralidade não pode ser apenas um discurso, mas uma prática efetiva dentro das escolas e universidades brasileiras. Por Roberto Mota. Natural de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul. Graduado em letras, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde também realizou curso de especialização e graduação em artes visuais. Ainda na parte acadêmica, é mestre pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. É professor na rede estadual de ensino de Mato Grosso do Sul e na rede municipal de Aquidauana.
Com informações Revista Oeste