Pesquisador aponta em gráfico sinais de que isolamento social ajudou a conter disseminação do coronavírus no Brasil

Pesquisador aponta em gráfico sinais de que isolamento social ajudou a conter disseminação do coronavírus no Brasil

4 de maio de 2020 Off Por Editor



  • Engenheiro concluiu que medidas de isolamento adotadas em março já conseguiram achatar linha de crescimento dos novos casos da Covid-19 por duas vezes. Médicos defendem lockdown para conter pandemia no Brasil.

    Os efeitos do isolamento social na contenção do coronavírus podem ser visualizados em gráficos, segundo aponta um vídeo feito pelo engenheiro Maurício Feo, que faz doutorado em física de partículas em Genebra, na Suíça. O engenheiro colocou em um gráfico os casos confirmados da Covid-19 entre os dias 25 de fevereiro e 29 de abril, fornecidos pelo Ministério da Saúde, e explica como a curva do crescimento da pandemia no Brasil tem desacelerado.

    “O Brasil não está mais seguindo uma curva exponencial perfeita”, afirma Feo no vídeo ao mostrar como a curva de novos casos confirmados começou a “achatar” em 23 de março.

    O crescimento exponencial é aquele em que o valor inicial de um evento é multiplicado por um mesmo número a cada período de tempo. Ao longo do tempo, este crescimento alcança valores assustadores quando comparado com o valor que se tinha inicialmente.

    O vídeo mostra que o crescimento da curva do coronavírus no Brasil mudou de comportamento em dois momentos, tomando inclinação menos acentuadas. “Embora os casos ainda venham crescendo, eles não estão mais seguindo uma trajetória exponencial como estavam antes”, comenta o pesquisador.

    Em entrevista o engenheiro explica que, ao afirmar que o coronavírus não está mais seguindo uma curva exponencial perfeita, é o mesmo que dizer que o vírus não está se espalhando “na proporção que era esperada inicialmente porque algo interferiu no crescimento e causou uma mudança positiva”, diz.

    Como ainda não temos uma vacina contra a Covid-19, Feo atribui ao isolamento social e medidas de quarentena adotadas pelos estados como o fator capaz de frear o crescimento de novos infectados. “Mas a história poderia ter sido diferente se nada tivesse feito”, afirma o engenheiro.

    Porém, Feo ressalta que os gráficos foram feitos com base em dados informados pelo Ministério da Saúde, que podem não representar a realidade. “Estabelecer a data específica de quando a curva mudou seu crescimento depende de muita coisa, incluindo a disponibilidade e demora no resultado dos testes, por exemplo.”

    “Mesmo que os números não representem a realidade absoluta do Brasil, o que importa é mostrar o formato da curva ao longo do tempo”, afirma o engenheiro.

    A curva exponencial dos gráficos sobre a pandemia representa o número de novas infecções ao longo do tempo. Por isso, o formato da curva pode indicar dois padrões:

    – Quanto maior o número de novos casos em um menor intervalo de tempo, mais acentuada a subida da linha.
    – Quanto menor o número de novos casos em um maior intervalo de tempo, menos acentuada a subida.

    Veja o vídeo:

    Feo ressalta que a análise apresentada em seu vídeo considera dados nacionais. “Mas temos vários surtos ocorrendo em paralelo, pois há diferentes estágios da evolução da epidemia em cada estado. O correto seria avaliar cada região individualmente de acordo com suas características. Por isso, minha análise é apenas educativa e serve para ilustrar que o isolamento surte efeito”, diz.

    Reflexo de duas semanas atrás

    O médico infectologista Caio Rosenthal explica que uma pessoa que for infectada hoje e tiver sintomas – vale a ressalva que alguns infectados são assintomáticos e não sabem que tiveram a infecção, apesar de transmiti-la – terá até uma semana para sentir os primeiro sintomas e mais 14 dias de evolução da Covid-19.

    “Ou seja, uma pessoa curada hoje foi infectada 21 dias atrás. Isso nos diz que o que é informado como novos casos numa X data, na verdade é a realidade do que aconteceu mais de duas semanas atrás”, explica Rosenthal.

    O infectologista alerta que, apesar de o crescimento da curva da pandemia no Brasil ter achatado, como mostrou o vídeo de Feo, não significa que alcançamos uma taxa baixa de transmissão do coronavirus, já que os novos casos confirmados a cada dia são sempre superiores aos casos anunciados no dia anterior.

    O epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, explica que o mesmo ocorre com as medidas de quarentena: elas não surtem efeitos imediatamente. “não é na data da adoção das medidas de quarentena que se muda a curva da pandemia.”

    Lotufo aponta que o Ministério da Saúde também tem coletado os dados de forma equivocada. “Por causa da demora e da disponibilidade dos testes, é um erro registrar um novo caso com base na data do resultado. O certo de se computar um novo caso é a data da coleta do teste.”

    Lockdown

    Tanto Rosenthal quanto Lotufo concordam que o isolamento social é uma medida eficaz para conter a disseminação do coronavírus, e que precisa ser radicalizada em todo o Brasil, fechando as fronteiras das capitais mais afetadas pela pandemia.

    “Não se deve flexibilizar a quarentena agora. Pelo contrário, se a gente não fizer um lockdown imediatamente, o Brasil vai ser um dos campeões no mundo em mortes por coronavírus”, defende o infectologista Rosenthal.

    “O vírus não respeita limite estadual, não respeita fronteiras. Não adianta um estado adotar quarentena e outro flexibilizar, como fez Santa Catarina. As medidas de hoje no estado catarinense vai impactar todos os estados vizinhos e até a Argentina. Não vejo outra saída a não ser um lockdown geral. Precisamos de uma política geral de saúde para o país”, completa o epidemiologista Lotufo.

    Com informações G1