Caso Rafael: mãe é condenada a 30 anos pela morte do filho

Caso Rafael: mãe é condenada a 30 anos pela morte do filho

19 de janeiro de 2023 Off Por Editor



  • A mulher, de 35 anos, era acusada de assassinar o filho, Rafael Winques, de 11 anos, em 2020 no Rio Grande do Sul

    O terceiro dia de julgamento começou na manhã desta quarta-feira (18) com o interrogatório de Alexandra Dougokenski. A mulher, de 35 anos, era acusada de assassinar o filho, Rafael Winques, de 11 anos, em Planalto, no norte do Rio Grande do Sul.

    O menino desapareceu no dia 15 de maio de 2020. Dez dias depois, Alexandra confessou que havia matado o filho, sem querer, em função de uma alta dosagem de remédios. Ela indicou o local do corpo, que estava dentro de uma caixa de papelão na garagem do vizinho.

    Alexandra Dougokenski foi condenada a 30 anos e 2 meses de reclusão e 6 meses de detenção por homicídio com quatro qualificadoras, além de ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual. As qualificadoras foram: motivo torpe, fútil, meio cruel e recurso que dificultou defesa da vítima, com aumento de pena por ser menor.

    A defesa deixou o plenário antes mesmo da juíza proferir a sentença. O advogado dela garante que vai recorrer do resultado e pedir anulação do júri. Alexandra Dougokenski está presa desde a época do crime em regime fechado.

    Durante o processo, Alexandra mudou cinco vezes a versão para a noite do crime. Para o Ministério Público, ela matou o filho por estar incomodada com o uso excessivo de celular por parte da criança.

    Interrogatório

    No interrogatório, que durou 2h30min, Alexandra sustentou a versão de que foi o pai de Rafael, Rodrigo Winques, que matou o menino. Segundo ela, Rodrigo chegou com um amigo naquela madrugada para levar o filho com ele. Rodrigo mora em Bento Gonçalves, cidade da serra gaúcha que fica a cerca de cinco horas de Planalto. Após uma discussão, o pai teria usado uma corda, que estava no bolso da jaqueta, para enforcar e matar Rafael. Depois, obrigou ela a acompanhar o momento em que ele colocava o corpo do filho dentro da caixa de papelão.

    “Ele me tirou a vida do meu filho. Ele teve a cara de pau, a cara deslavada de ir no velório do filho, enquanto eu e a minha família não pudemos chegar nem perto do meu filho pra ver ele pela última vez. Isso é justo com uma mãe?”, disse Alexandra.

    As investigações descartaram Rodrigo como suspeito do crime e provaram que ele estava em Bento Gonçalves naquela noite. Segundo Alexandra, ela não revelou antes que o pai era o responsável pela morte do filho porque era ameaçada pelo ex. Ela disse que teve uma relação abusiva com Rodrigo e que sofreu violência sexual e doméstica. Também disse que foi coagida pela polícia a confessar que matou Rafael intencionalmente.

    Debates

    A etapa de debate começou com a fala dos promotores durante 1h30. O Ministério Público sustenta que a versão trazida durante o interrogatório da ré é fantasiosa. Para a acusação, ela planejou o crime porque o filho não obedecia suas ordens e jogava muito no celular.

    “Todo o homicídio praticado, percebam, por uma mãe contra o próprio filho é por motivo fútil. Nada justifica matar o próprio filho.”, disse o promotor Diogo Taborda.

    O Promotor lembrou que além do homicídio qualificado, Alexandra era acusada de outros crimes, como falsidade ideológica. Ele mostrou o Boletim de Ocorrência feito por ela por volta das 11h30 do dia 15 de maio de 2020. No boletim, Alexandra comunicava à polícia o desaparecimento do filho, mesmo sabendo que o menino já estava morto.

    O promotor também mostrou um mapa da cidade de Planalto que indica onde ficava a casa de Alexandra, o hospital e o SAMU. Taborda ressaltou que, em caso de superdosagem de medicamentos por engano, não seria difícil o socorro chegar até a casa de Rafael, caso tivessem pedido ajuda.

    O debate seguiu para a argumentação da defesa de Alexandra, também por 1h30. “Eu tenho certeza que ela não matou. Mãe não mataria”, disse o advogado Jean Severo, após pedir para Alexandra se aproximar.

    O advogado disse que a confissão “não é a rainha das provas”. Que é possível uma confissão pra proteger alguém, por ter medo. Ele reforçou que Rodrigo estava na região na noite do crime.

    Na sequência, foi o momento da réplica do Ministério Público e da tréplica da defesa, num total de 2h.

    A Promotora Michele Taís Dumke Kufner, que é de Planalto e acompanha caso desde o início, iniciou a réplica. “Eu senti o cheiro do Rafael podre. Eu tava aqui”, diz a promotora. Ela disse que perguntou a Alexandra durante o suposto desaparecimento de Rafael se estava acontecendo alguma coisa, se havia ameaça. Deixou contato com ela. Alexandra disse que não.

    A promotora também reforçou que as provas colocam Rodrigo, pai do menino, em Bento Gonçalves. “Se ela fala que quem matou foi o Rodrigo, por que ela mandaria uma mensagem no outro dia de manhã pra ele perguntando do Rafael?”, questiona.

    Durante a tréplica, houve um tumulto no Tribunal. A defesa de Alexandra apresentou um arquivo que seria a “prova cabal” que Rodrigo Winques não estava em Bento Gonçalves na noite do crime.

    A defesa mostrou aos jurados uma foto que seria do quarto de Rodrigo, em Bento Gonçalves (a esq), e compara com outra (a dir), que teria sido tirada na noite do crime. Segundo os advogados, isso comprovaria que o pai de Rafael não estava em casa naquele momento.

    Protesto

    Por volta das 18h, moradores, familiares e amigos de Rafael se reuniram em frente ao Fórum. De mãos dadas, fizeram uma oração. Na sequência, pediram Justiça por Rafael.

    Moradora de Planalto, a fisioterapeuta Mariele Zanella participou da manifestação. “Tenho certeza que qualquer mãe pegaria a criança e levaria pra hospital se tivesse realmente a intenção de salvar né? Então estamos todos muito indignados. A gente procura Justiça e temos certeza que o Rafael terá paz”, disse.

    Com informações SCC10